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Fernando ReisLevantamento de Peso - Fernando Reis

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Fernando Reis (levantamento de peso)







 FORÇA PARA SUPERAR IMPROVISOS

Por Manoela Telles e Thyago Mathias

Se tivesse repetido o arranco de Guadalajara com 185 kg e o arremesso do Pré-Olímpico da Guatemala, estaria entre os nove melhores de Londres. No entanto, uma contusão no joelho, que se agravou durante a competição, me colocou no décimo segundo lugar do mundo. Competi como de costume, com garra, coragem e determinação. Sinto-me feliz em poder ter representado meu país e participado de minha primeira Olimpíada.

Com a 12ª colocação nos Jogos Olímpicos de Londres, Fernando Reis foi o único homem a representar o Brasil nesta modalidade que vem, com adaptações, desde a Grécia. Medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (2011), ele sofreu uma lesão no joelho esquerdo, durante os treinamentos. Com uma bolsa de estudos esportiva para estudar Administração na Lindenwood University, nos Estados Unidos, ele conta – lá fora – com estrutura para treinar e mirar os Jogos do Rio, em 2016.

O ESPORTE AQUI É FEITO NA BASE DO IMPROVISO. O BRASIL NÃO ESTÁ PREPARADO PARA OS JOGOS OLÍMPICOS. OS CAMPEÕES SE FORMAM DE MANEIRA DISTINTA. SÃO ESFORÇOS PESSOAIS DE CADA ATLETA.

Memória Olímpica: Você representa uma modalidade olímpica que, apesar de tradicional, não é muito conhecida no Brasil. Como foi o início da sua carreira?

Fernando Reis: Comecei a treinar aos onze anos de idade. Comecei de forma recreativa, como uma brincadeira e acabei me identificando com a modalidade. O levantador de peso acaba sendo visto como um bruto, mas esse é um esporte no qual você tem que unir brutalidade, agressividade e força. São requisitos fundamentais. Eu percebo que é uma modalidade que desperta muita curiosidade, por ser clássica, mas ainda falta conhecimento a respeito. Quando as pessoas passam a entender, o ponto de vista muda.

MO: Como foi participar da sua primeira Olimpíada e que balanço você faz de sua participação em Londres 2012?

FR: Honestamente, eu esperava um resultado melhor. Se tivesse repetido o arranco de Guadalajara com 185 kg e o arremesso do Pré-Olímpico da Guatemala, estaria entre os nove melhores de Londres. No entanto, uma contusão no joelho, que se agravou durante a competição, me colocou no décimo segundo lugar do mundo. Competi como de costume, com garra, coragem e determinação. Sinto-me feliz em poder ter representado meu país e participado de minha primeira Olimpíada. Espero que para 2016, eu tenha um suporte melhor do que tive até agora. Tenho certeza que com um maior apoio, meu técnico Luis Lopez e eu traremos ainda muitas alegrias para o nosso país no levantamento de peso.

MO: Você conquistou o ouro inédito nos jogos de Guadalajara e ainda bateu o recorde Pan-Americano. Como é subir ao pódio representando o Brasil?

FR: Foi muito bom, quebramos o recorde. Escrevemos o nosso nome na história e mostramos nossa soberania em Jogos Pan-Americanos. Foi um passo muito importante no esporte para o país. Vencer a prova e estabelecer um recorde é algo gratificante. É o resultado do trabalho, a consequência do treinamento árduo e a recompensa, com um resultado positivo.

MO: Podemos dizer que sua família treina com você? Qual é a importância do apoio de sua família e o que ela representa para você?

FR: Minha família é tudo, é a minha base. Meus pais e irmãos me dão total respaldo em todos os quesitos. A mesma felicidade que eu trago para o Brasil, eu trago para eles, por meio de minhas conquistas. Eles vivenciam o meu dia a dia, conhecem as dificuldades que enfrento, sabem o quanto é doloroso e sofrido e estão ao meu lado nos momentos bons e ruins.

MO: Você tem algum ídolo?

FR: Meu ídolo como esportista e como pessoa é o Ayrton Senna. Também admiro os meninos do judô, Tiago Camilo e Leandro Guileiro, e também o nadador Cesar Cielo.

MO: Muitos atletas brasileiros sofrem dificuldades pela falta de patrocínio. Você também passou por essa situação. Como é viver de esporte no Brasil?

FR: O esporte aqui no país é feito na base do improviso. O Brasil não está preparado para os jogos olímpicos, para formar campeões. Os campeões se formam de maneira distinta ou de maneira uniforme, como o caso do Cesar Cielo, que estudou e treinou nos Estados Unidos. São esforços pessoais de cada atleta, não há uma base gerida pelas confederações ou pelo Comitê. Acho que a gente ainda está caminhando para chegar a 2016 com força, gerando mais atletas e campeões. Mas o esporte profissional aqui ainda é muito complicado, eu diria, que há um amadorismo.

MO: Qual é a maior dificuldade que você já enfrentou no esporte?

FR: Na minha modalidade, as maiores dificuldades são as de ordem física, por causa das dores musculares, do treinamento pesado, do sacrifício pelo esporte. É uma modalidade bruta, que exige muito da parte física e mental. Há dias em que chego em casa esgotado, sem força para fazer nada, com muitas dores. Para aliviar, fazemos um trabalho de profilaxia, com gelo, banheira de gelo, sauna, antiinflamatórios e vitaminas.

MO: O fato de ter morado nos Estados Unidos ajudou em seu treinamento? Você notas diferenças entre como o esporte é encarado aqui e lá?

FR: A diferença é clara. A estrutura é completamente diferente. Qualquer universidade, por menor que seja, possui uma estrutura classe A para qualquer esporte que você vá praticar. Aqui no Brasil é muito difícil encontrar essa estrutura. No levantamento de peso, o melhor polo que existe no Brasil é o Esporte Clube Pinheiros, do qual sou membro desde garoto. Mas há poucos. Nos Estados Unidos, há estrutura, salas para levantamento de peso, profissionais capacitados, um mundo completamente diferente. Eles acreditam que o esporte constrói uma sociedade melhor, ajuda nos estudos. Infelizmente, aqui no Brasil, a gente não tem esse conceito. Eu tenho bolsa de estudos lá, falta pouco mais de um ano para eu terminar a graduação.

MO: E o que você pensa a respeito do doping?

FR: Cada atleta faz o que pensa ser o melhor. Eu faço o que é certo, fazemos um controle muito grande. Hoje em dia, para participar de competições, há um controle rigoroso, o que eu acho positivo. Antes das olimpíadas eu fiz nove exames antidoping.

Data: 10/09/2012

Fonte: http://www.esporteessencial.com.br/entrevista/fernando-reis-levantamento-de-peso

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